De: Marcello Cunha <redes@docaminho.com>
UM MANIFESTO DE VIDA – Por Marcelo Quintela
#boramudaromundo
Na minha adolescência, colecionava boletins informativos das agências missionárias e/ou humanitárias que mais me cativavam em seu agir no Brasil e no mundo. Daí que, no alto dos meus 14 anos de idade, ia, escondido dos meus pais, entregar minha mesada nas contas correntes disponibilizadas nos boletins que recebia da PASTORAL DA FAMÍLIA, da VINDE, WORLD VISION, MEAP, ASAS DO SOCORRO, para citar só algumas pelas quais dobrava meus joelhos adolescentes sonhando um dia também ser um agente de transformação social, sem ganhar nada senão o privilégio de pertencer, de oferecer minha vida em gratidão a Quem tudo me deu!
Eu tinha acabado de deixar o arraial católico assustado com um certo assédio pedófilo que me deixava muito confuso, e fui viver Deus, com meus três irmãos e minha mãezinha, na Igreja Protestante que, em sua parcela mais visível, já perdeu o protesto, mantendo somente a fixação pública de legislar sobre a genitália alheia…
Hoje, amo meus padres e pastores, entretanto, aprendi que Deus só "vive" nas ruas, no caminho da Vida, Peregrino e Forasteiro, que não habita em templos feitos por mãos humanas, posto que Ele mesmo seja "Cavaleiro Marginal", e toda institucionalidade deve existir no sentido de servi-Lo, e nunca a si mesma, pois, do contrário, não se valida diante Dele por mais que Dele se chame!
Amei cada instituição a que me filiei enquanto sua motivação em se organizar como entidade civil ainda era a manifestação genuína do amor ao próximo! E dentro desses ambientes, viajava imaginando as transformações sociais das quais o Rio de Janeiro estava impregnado na década de 1990 com as parcerias entre Betinho, Caio Fábio e Rubens Cesar. Amava a Fábrica da Esperança, o Viva Rio, o Rio Desarme-se, a Casa da Paz e tantas outras iniciativas do reverendo Caio, e,tentava, num nível "micro" e desajeitado, replicá-las de algum modo em minha própria região e denominação.
Lembro que ainda pequeno desejava ir às DIRETAS JÁ, mas minha família espanhola, racista e xenófoba se lixava para o país em que resolveu se fixar. Eu era um menino estranho… Daqueles que choraram quando Tancredo subiu a rampa num caixão…Mas cresci e fui para a Universidade, onde finalmente subi em caminhões com a cara pintada para pedir redução nos preços das mensalidades das faculdades particulares para que houvesse acesso a gente como eu, advinda das escolas públicas nas quais o período de greves docentes eram maiores que os períodos de férias letivas, ano após ano. A TV me chamou de "cara-pintada" e quando eu desci do caminhão, o presidente tinha caído (e as mensalidades não…).
E foi a Odontologia que me deu os primeiros passaportes para transformar as viagens da imaginação em voos reais, e fui Dentista voluntário aos indígenas e ribeirinhos amazônicos por Asas de Socorro, entre outras frentes. Sim, de expectador e mantenedor passei a ser um ser em trânsito, e os últimos 10 anos foram vividos em manifest-AÇÕES. Não exatamente em protestos, porque quase todos eles eram partidários e eu nunca fui, mesmo sendo muito politizado. Não exatamente em reivindicações filmadas, mas em ações sem mídia, sem redes sociais, sem lenço sem documento…
Agora vejo a nova geração nas ruas… Que alegria, satisfação e surpresa! Espero que os jovens que saem para recl-AMAR melhorias aprendam também a arte de amar melhor! Porque não dá para protestar todo dia! Mas dá para amar o tempo todo! E só tem duas forças em operação nesse mundo capazes de manter a gente com a energia focada em empreender o bem social: o poder do Amor ou o amor ao Poder. E assim é que aquele garoto cara-pintada que deflagrou o impeachment collorido hoje abraça o presidente deposto, nos corredores parlamentares, só para citar um exemplo de como tudo que começa bonito, apartidário e plural, rápido pode se tornar em projeto de carreira, no qual o bem social vira só um "negócio" pessoal. Mas quem se mantiver rendido ao poder do Amor seguirá se manifestando sem perder a alma, o foco, a força de Deus!
Digo tudo que disse acima só para tentar provocar em você alguma parceria, porque ainda acho que dá para mudar o mundo. Mas vamos precisar de todo mundo…!
Nas páginas desse "E-BOLETIM" você saberá onde estou hoje, e com quem eu ando, e por onde caminho, 25 anos depois das primeiras inspirações. Leia tudo. Aceite provocações! Participe! E vamos juntos adiante, cruzando fronteiras, chegando aonde ninguém chega, vendo o que ninguém quer ver, fazendo o que ninguém quer fazer!
Transcrevo abaixo parte do texto de um voluntário que enviaremos ao inferno das carências africanas assim que tivermos recursos para isso. Aqui ele sintetiza nossa interpretação desse tempo e hora, à luz do Evangelho que nos guia!
"A mudança nunca vem de um gigante que precisa acordar.
A mudança sempre vem de gigantes que não conseguem dormir.
E esses já estavam nas ruas antes da rua ser a maior arquibancada do Brasil.
E ficarão nas ruas quando a onda de estar na rua seja coisa do passado.
Mesmo sem foto alguma. Sem Instagram.
Pois, para eles, não há dias de manifestações.
Há um manifesto de vida.
Algo pelo que lutar mesmo sem que a revolução seja televisionada.
O gigante precisa mais que acordar.
Precisa recobrar a consciência.
Pois, o que adianta estar de pé e não saber para quê se levantou?"
(GITO WENDELL)
Marcelo Quintela
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