Posted: 29 Oct 2016 03:00 AM PDT Convencer fiéis a abdicar de recursos para sustentar supostos arautos do divino é explorar os efeitos sem alertar para as causas Frei Betto, em O Globo Muitos cristãos foram educados na religião do medo. Medo do inferno, das chamas eternas, das artimanhas do demônio. E quando o medo se apodera de nós, adverte Freud, transforma-se em fobia. Recurso sempre utilizado por instituições autocráticas que procuram impor seus dogmas a ferro e fogo, de modo a induzir as pessoas a trocar a liberdade pela segurança. Quando se abre mão da liberdade, demite-se da consciência crítica, omite-se perante os desmandos do poder, acovarda-se agasalhado pelo nicho de uma suposta proteção superior. Foi assim na Igreja da Inquisição, na ditadura estalinista, no regime nazista. É assim a xenofobia ianque, o terrorismo islâmico e os segmentos religiosos que dão mais valor ao diabo que a Deus, e prometem livrar os fiéis de males através da vulgarização de exorcismos, curas milagrosas e outras panaceias para enganar os incautos. Em nome de uma ação missionária, milhões de indígenas foram exterminados na colonização da América Latina. Em nome da pureza ariana, o nazismo erigiu campos de extermínio. Em nome do socialismo, Stalin ceifou a vida de 20 milhões de camponeses. Em nome da defesa da democracia, o governo dos EUA semeia guerras e, no passado recente, implantou na América Latina sangrentas ditaduras. Convencer fiéis a abdicarem de recursos científicos, como a medicina, e de boa parte da renda familiar para sustentar supostos arautos do divino é explorar os efeitos sem alertar para as causas. Já que, no Brasil, milagre é o povão ter acesso ao serviço de saúde de qualidade, haja engodo religioso travestido de milagre! A religião do medo alardeia que só ela é a verdadeira. As demais são heréticas, ímpias, idólatras ou demoníacas. Assim, reforçam o fundamentalismo, desde o bélico, que considera inimigo todo aquele que não reza pelo seu livro sagrado, até o sutil, como o que discrimina os adeptos de outras tradições religiosas e sataniza os homossexuais e os ateus. A modernidade conquistou o Estado laico e separou o poder político do poder religioso. Porém, há poderes políticos travestidos de poder religioso, como a convicção ianque do "destino manifesto", como há poderes religiosos que se articulam para ocupar os espaços políticos. Até o mercado se deixa impregnar de fetiche religioso ao tentar nos convencer de que devemos ter fé em sua "mão invisível" e prestar culto ao dinheiro. Como afirmou o papa Francisco em Assis, a 5 de junho de 2013, "se há crianças que não têm o que comer (…) e uns sem abrigo morrem de frio na rua, não é notícia. Ao contrário, a diminuição de dez pontos na Bolsa de Valores constitui uma tragédia". Uma religião que não pratica a tolerância nem respeita a diversidade religiosa, e se nega a amar quem não reza pelo seu Credo, serve para ser lançada ao fogo. Uma religião que não defende os direitos dos pobres e excluídos é, como disse Jesus, mero "sepulcro caiado". E quando ela enche de belas palavras os ouvidos dos fiéis, enquanto limpa seus bolsos em flagrante estelionato, não passa de um "covil de ladrões". O critério para se avaliar uma verdadeira religião não é o que ela diz de si mesma. É aquela cujos fiéis se empenham para que "todos tenham vida, e vida em abundância" (João 10, 10) e abraçam a justiça como fonte de paz. Deus não quer ser servido e amado em livros sagrados, templos, dogmas e preceitos. E sim naquele que foi "criado à Sua imagem e semelhança": o ser humano, em especial aqueles que padecem de fome, sede, doença, abandono e opressão (Mateus 25, 36-41). |
sábado, 29 de outubro de 2016
Pra pensar ...
sexta-feira, 28 de outubro de 2016
Dia 30/10 estaremos reunidos na UFU
O maior é aquele que mais serve!
sexta-feira, 21 de outubro de 2016
Reunião Caminho da Graça Domingo dia 23/10
O maior é aquele que mais serve!
segunda-feira, 17 de outubro de 2016
Jesus e os do Caminho
Segue material que li um pedaço ontem.
Boa leitura a todos.
sexta-feira, 14 de outubro de 2016
Domingo tem Encontro na UFU - Ceia
O maior é aquele que mais serve!
sexta-feira, 7 de outubro de 2016
Reunião Caminho da Graça Domingo dia 09/10
O maior é aquele que mais serve!
Reunião Caminho da Graça Domingo dia 09/10
O maior é aquele que mais serve!
segunda-feira, 3 de outubro de 2016
A rede onde nos deitamos (Gondim)
Posted: 02 Oct 2016 03:44 AM PDT
Ricardo Gondim
Rubem Alves escreveu que Deus não é pássaro para prendermos em redes. Ele é a rede onde nos deitamos. Concordo, Deus é a rede que nos dá repouso, onde encontramos algum sentido na feliz e trágica aventura de viver.
Depois do mito, do símbolo e do rito, as religiões procuram se perpetuar através das doutrinas. Quanto mais frágil uma religião, maior apego a seu conjunto de afirmações e discursos. A doutrina é um último recurso para proteger uma religião. Como em todas elas, o Divino é seu tema principal, sempre que uma corrente religiosa se sente em perigo, mais precisa ser exaustiva em definir e explicar Deus. O Mistério ficaria, assim, domesticado pelo clero. Contido nas afirmações que a teologia faz a seu respeito, aquela denominação mostra sua força.
E, quando vida e dogma colidirem, a teologia virá sempre em primeiro lugar. O feixe de arrazoamentos ganha primazia sobre o compromisso com as pessoas porque a instituição estaria com alguma agressão de alguém ou de algum sistema. Ao invés de colocar-se como defensora da vida, a religião passa a defender o conjunto de verdades que pode lhe salvar.
Eis um motivo porque as religiões, ao tentarem se proteger, precisam usar afirmações inegociáveis. Essas certezas se tornam seus fundamentos. A sustentação do edifício eclesiástico depende deles. Daí o termo fundamentalismo. Uma premissa do fundamentalismo é existirem verdades absolutas e elas transcendem cultura, tempo e qualquer circunstância.
No fundamentalismo, para fazer a doutrina valer, a vida é relativizada. E as afirmações categóricas da religião ganham apologetas. Defendidas a qualquer custo, são mais preciosas que pessoas. Clichês e chavões só acontecem depois. Se a existência se mostrar bruta, e o enunciado teológico não der conta de explicar o sofrimento, algumas frases passam a ser, piedosamente, defendidas. Vazias de argumento, mas sagradas.
Se guerras e genocídios cobram explicação, o fundamentalismo não se importa se suas respostas beiram a bobagem. Mas, como responder aos horrores da fome, da miséria e aos crimes nacionais? Algumas chegam tão vazias de conteúdo que ninguém as respeita. Nesse ponto, o fundamentalismo é um tiro no pé. Não liga sequer se arremeter a algum conceito frio sobre a divindade. Eis uma possível explicação para o ateísmo: se Deus é malvado e obscuro, melhor abandoná-lo.
Reagimos ao risco de existir, e aos percalços do dia a dia, com quais conteúdos? O que nos dá algum sentido? Na hora em que for necessário debulhar o infortúnio que acossa a humanidade, melhor insistir no diálogo respeitoso com o diferente. Talvez Deus habite a máxima de toda espiritualidade: faça aos outros o que você gostaria que fizessem a você. Penduremos nossas redes neste gancho.
Chega de cartilhas de teologia, catecismos e livros de apologética. Eles se organizam em questiúnculas. E só alimentam discórdias. Padres, pastores, rabinos, seminaristas, alunos de escola dominical e pretensos defensores da glória de Deus sabem: suas certezas não são inquestionáveis. Aprofundemo-nos apenas no que importa: a preservação da dignidade e da vida. A agenda de quem escreve, discursa ou prega, deve coincidir com esse alicerce da coexistência humana: todos somos irmãos.
Abandonemos a ideia de esquadrinhar o Eu sou. Desejemos nos deitar em redes brancas. Procuremos alimentar a alma com o amável, louvável e gentil. Caminhemos nos verdes prados da paz. Caso encontremos quem nos dê de beber da água do poço em Samaria, não hesitemos em chamá-lo de irmão. Abramos a nossa tenda para receber o estrangeiro; quem sabe, na hora de partir o pão, nos vejamos na companhia do divino companheiro.
Soli Deo Gloria
fonte: site do Ricardo Gondim