sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Mais um capítulo….

Bom dia amigos do Caminho da Graça
Seguem noticias do campo. Noticias da Nigéria e de nossas crianças...
Hoje são tristes, mas carregadas de esperança.

Abraço a todos.



O REENCONTRO (Gito)

Vitórinha estava brava porque eu sumi do orfanato.

Ela não entendia que eu tinha sido expulso de lá e que não tínhamos voltado lá ainda por causa das ameaças que sofríamos do bispo ex-administrador que viu sua mina de ouro acabar quando as crianças começaram a ficar com vida e descobrimos um esquema de corrupção e desvio de verbas.

Mas voltamos para retirar algumas crianças sob nossa tutela, enquanto lutamos judicialmente por todas as outras. 

O pessoal estava em reunião com o ex-administrador, aproveitei e fui vê-las. Todas. Todas temiam. O Bispo explicou nossa ausência de lá com muitas mentiras. Coisas graves sobre nós. Algumas acreditavam ser verdade. 

O meu amigo Emman foi comigo. Bombeiro, grandalhão, é o motorista e o segurança ao mesmo tempo, sempre firme... mas desabou em lágrimas. Não conseguia parar de chorar e falar em ibibio, eu não entendia o que estava acontecendo.

Os meus amigos, parece que duvidaram do que ouviram e enfrentando as possíveis retaliações de serem vistos ao meu lado, vieram: Big David, Medium David e Small David (são 3 Davids, por isso os dividimos por tamanho), Godwin, Paul, Gift, Esther... o Bobó ficou sentado na cadeirinha rindo pra mim, felizão com a minha aparição... olhei por todos os lados... 
-Gente, cadê a Vitória?

Chamaram a Vitória, que veio sem querer vir, brava. Não falou uma palavra comigo. Triste. Eu falei tudo o que podia com ela, ela só ficou quietinha...

O Emman parou de chorar por um segundo e disse: Gito, elas estão assim porque estão com fome... e vi as lágrimas rolarem sua face...

A reunião rolava...

Em mim, um sentimento de amor e raiva, que sempre se misturam aqui dentro. Segundos em que pensei uma estratégia de desaparecer com todas, correr, fugir, salvá-las uma vez mais...fazer uma guerra, convocar o planeta para ver se alguém escuta a dor silenciosa de cada uma e também a minha...

Mas o Léo e eu tínhamos combinado não fazer nada aquele dia. Ficar quietos. Apenas levar as nossas. Qualquer tentativa de qualquer coisa seria sentenciá-las ao pior. 

Respirei fundo e olhei pro Léo. Vi que ele se segurava na cadeira da reunião, respirando fundo...

Pedi aos céus aquela paz que excede todo o entendimento...

Ela chegou de imediato.

Virei para as crianças que me cercavam e prometi:

Nós vamos lutar para ter vocês com a gente. Quem aqui acredita nisso?

A mão do David levantou, a da Gift, o Godwin assentiu com a cabeça... umas se aproximaram para me tocar com os braços...a Vitória deu 3 passos para perto de mim, o Bobó sorriu...

E nesse momento, meus olhos se encheram de lágrimas que ficaram presas até agora quando resolvi escrever isso.



Wellington Vanzo
(34) 9106 4250



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