quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Pra Você que ainda não entendeu o que fazemos na Nigéria…

HOJE Nós vimos a morte de perto!

14/01/2013
21:30 Lua Cheia

O dia começou bem agitado hoje. Leo, Diana e eu tivemos uma reunião para decidir quais seriam nossas ações durante essa semana.

Para hoje, nós decidimos ir até a cidade de Oron, que fica cerca de trinta minutos de distancia da cidade de Eket. Nós teríamos que visitar o Chefe tribal da região e ver as crianças na nossa base onde eu ficarei durante os meses que eu estiver aqui.

CHOQUE! Essa é a palavra que define o dia de hoje. Enquanto eu escrevo , estou tentando ainda entender o que aconteceu hoje, ainda estou tentando retirar algo que pareça ou que tenha cheiro de vida e esperança. Porque hoje eu senti o cheiro e a textura da morte.

Logo depois da reunião, nós pegamos a estrada para visitar a nossa base e o chefe tribal da cidade de Oron. Enquanto dirigíamos, vimos uma pequena movimentação de pessoas na beira da estrada, havia uma mulher caída e alguns homens rodeando ela. Repentinamente um dos homens levantou um pedaço de pau e começaram a espancar a mulher, outros se aproximaram e passaram a chutá-la. Havia uma corda amarrada na perna dela e um terceiro puxava a mulher pelo asfalto.

O Leo pediu para o motorista parar e fazer a volta. Enquanto nos aproximávamos, os nigerianos se afastavam dela, então o Leo e o nosso motorista saltaram do carro e foram em direção à multidão. O povo parecia inerte diante da nossa presença. Nós perguntamos o que estava acontecendo e eles de uma forma muito natural disseram que não estava acontecendo nada. Começaram a negar que estavam espancando a mulher. Então nós dissemos que havíamos visto eles fazerem aquelas barbaridades com ela. Um deles então disse que a mulher estava atrapalhando a passagem dos carros, que ela era uma pedinte e que eles estavam apenas retirando-a do meio do caminho.

Eu me aproximei dela, vi a corda amarrada na perna da mulher e havia óleo diesel derramado sobre a mulher. O Leo olhou pra mim e disse: "Tony eles iriam mata-la e queimá-la aqui na frente de todo mundo." Eu demorei acreditar e entender o porquê de tudo aquilo. Foi quando um dos nigerianos disse: "Ela é uma bruxa e merece morrer." O Leo gritou com o homem perguntando como ele podia provar que ela era uma bruxa e como ele sabia disso. O povo se calou, então o Leo perguntou: "Pessoal, quantos aqui são cristãos?". Para a minha surpresa, todos levantaram as mãos, incluindo aqueles que estavam com os paus agredindo a mulher. O Leo então perguntou se eles conseguiam ver Jesus fazendo tal coisa, e acrescentou que se eles matassem aquela mulher, eles se tornariam assassinos!

Enquanto o Leo falava, o nosso motorista tentava entender o que a mulher falava, pois ela não sabia falar inglês, apenas uma outra língua tribal.

Eu então me abaixei, toquei a perna da mulher que estava ferida e sangrando, desamarrei a corda dos pés dela, levantei e olhei nos olhos do rapaz que estava batendo nela e disse: "Cara, a partir de agora você se torna responsável pela vida dessa mulher, se você mata-la, a vida dela estará sobre ti, você tem que amá-la, foi isso que Cristo ensinou!" 

Tínhamos que agir rápido. Não poderíamos deixar a mulher ali naquele lugar. Eu olhei ao redor e havia alguns pequenos comércios e duas igrejas, uma na frente da outra. Muitos já estavam rodeando-nos e cada vez chegando mais gente para ver os "Homens brancos" bancar o bom samaritano. 

O meu coração está arrebentado neste momento, porque não houve final feliz. Apareceu um certo homem se propondo a cuidar e levar a mulher para outro lugar mais perto da vila de onde ela tinha vindo. Nós confiamos naquele homem, entregamos uma certa quantia de dinheiro para que pudesse coloca-la em um carro e tirá-la dali. Nós mesmos levamos o rapaz e o taxista para levá-la. Estávamos cientes que eles fariam o que prometeram.

Nós saímos e continuamos nossa viagem para encontrar com o Chefe tribal. Ele é um homem sábio, um senhor de setenta e seis anos, consciente e cheio da graça de Deus. Ao contarmos o que havia acontecido, eu vi nos olhos e na expressão facial daquele senhor, uma dor e tristeza profunda. Ele então disse: "Eu sinto muito, é muito triste isso que eu vou dizer, mas aquela mulher certamente estava fugindo da vila dela e se ela voltar pra lá, ela certamente será morta também. Esse é um problema que não tem solução enquanto esse povo continuar a acreditar nessa porcaria, nessa mentira, nessa história de bruxas e bruxarias".

A única forma de salvar aquela mulher, seria leva-la para um lugar seguro e cuidar dela. Então eu lembrei do pequeno Samuel e uma outra pequena criança que está morando na nossa base. Eles foram acusados de bruxaria e foram salvos pelo Caminho Nações. Se esse povo é capaz de fazer essa barbaridade com um adulto, quão brutais e covardes eles conseguem ser com uma criança?!

Esse ciclo dos infernos tem que acabar! Esse povo tem que parar de acreditar nessas mentiras contadas por esses pastores do mal. Isso é urgente, tem gente morrendo neste momento, agora! É tudo verdade, meus olhos viram, minhas mãos tocaram no corpo frágil e quebrado de um ser humano mutilado pela mentira.

Quando voltávamos pra casa, nós passamos pelo mesmo lugar onde estava a mulher. Nós paramos e conversamos com os caras que estavam batendo na mulher, nós perguntamos se o rapaz havia levado a mulher, eles apenas apontaram e mostraram a mulher jogada na beira da estrada à alguns metros de distância. Ela ainda estava com vida. Eu senti com minhas mãos atadas, sem ideia sobre o que fazer, sem nenhuma sugestão sobre o que faríamos, afinal de contas, nós somos estrangeiros, sem teto, sem chão. Talvez nós apenas demos a ela mais um dia de vida com a nossa intromissão, talvez apenas a salvamos dela ter que morrer queimada por hoje. Ela continuará lá, jogada, faminta e desprotegida. Igual a ela, existe centenas de outras mulheres e crianças sendo acusadas de bruxaria. 

Meus olhos neste momento estão cheios de lágrimas, gotas de lágrimas que rolam sob meu rosto. Hoje foi o primeiro dia em que eu me misturei com o povo, o primeiro dia que eu senti o cheiro da morte. Hoje foi o dia que algo tentou me dizer que eu deveria pegar minhas malas e ir embora. Mas agora, essas lágrimas que saem dos meus olhos, esse coração que bate forte aqui dentro, estão me encorajando a ficar. Não darei um passo para traz, não retrocederei um centímetro se quer. Pois quando eu olhei para as nossas duas crianças que foram salvas da mesma barbárie que aquela mulher estava vivendo, quando eu abracei as nossas crianças, então eu entendi que foi pra isso que eu estou aqui. Que Deus em Cristo me ajude e equipe-me a esclarecer para esse povo, que na Cruz, Deus expos publicamente os principados e potestades e venceu sobre eles.


Eket – Nigéria

Tony


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