terça-feira, 12 de novembro de 2013

Empresário escolhe vida sem luxo

Bom dia Amigos.
Ja ouvi muitas histórias desse homem.
Talvez, algumas sejam lendas, mas o que interessa mesmo é o que ele de fato esta fazendo.
Leia até o fim e veja a motivação do coração Dele.

Um exemplo a ser seguido.

Boa semana a todos.


Wellington Vanzo
(034) 91064250



Por Marcos de Moura e Souza | De Belo Horizonte


O empresário Estevam Duarte de Assis assinou há três anos um contrato bilionário com o grupo varejista chileno Cencosud. Vendeu por R$ 1,35 bilhão a rede de supermercados Bretas, que seu pai havia fundado no interior de Minas Gerais. Era dinheiro para mudar sua vida e de toda a família. Mas quem o vê hoje tem às vezes a sensação de que ele empobreceu. Assis mora a maior tempo num quartinho minúsculo, equipado apenas com um banheiro em Belo Horizonte e circula em um Pálio pela cidade. Doa, segundo um amigo, 90% de seus ganhos pessoais.

Aos 57 anos, o ex-presidente do Bretas - cuja venda ajudou a fazer do Cencosud a quarta maior rede de supermercados do país - dedica parte do seu tempo à recuperação de rapazes e moças que se afundaram no consumo de drogas, sobretudo o crack.

Ele é um dos principais apoiadores em Minas da Fazenda Esperança, uma comunidade terapêutica ligada à Igreja Católica especializada em recuperar dependentes químicos. Assis dá palestras aos jovens, atrai empresários dispostos a doar dinheiro ao projeto e também tira do bolso recursos para ajudar a manter o trabalho vivo.

Sediada no interior de São Paulo, em Guaratinguetá, e liderada por um frei alemão, Hans Stapel, a Fazenda Esperança tem hoje 94 unidades - sendo 64 delas no Brasil e as demais em 14 países, da Guatemala à Rússia, do Uruguai a Moçambique. Ao todo, são 3 mil pessoas em recuperação, segundo o frei.

Em Minas Gerais são seis fazendas em funcionamento, com um total de 16 casas: em Coromandel, Guarará, Itabira, Pouso Alegre, Poté e Três Marias. A rotina dos garotos inclui trabalho e oração. As fazendas têm como objetivo produzir renda própria e se sustentar.

No fim de outubro, por insistência de Assis, o governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia (PSDB), determinou a transferência de R$ 4,5 milhões para a Fazenda Esperança para a construção de mais dez casas em propriedades do projeto em Minas. Diferentemente de outros projetos, nesse o governo não gastará com a manutenção das casas, segundo Tanit Sarsur, coordenadora estadual de saúde mental da Secretaria de Saúde do Estado. Cada casa abrigará 16 pessoas. O programa de recuperação dura um ano.

Assis conta que há cinco anos conversou pela primeira vez com o então vice-governador Anastasia sobre um convênio. Os termos que propunha ao governo eram esses: ele conseguiria levantar com empresários recursos para a construção de dez casas e o Estado bancaria outras dez - cada uma com 392 metros quadrados, para abrigar 16 pessoas.

Depois de meses de visitas e avaliações, os recursos saíram. Os R$ 4,5 milhões equivalem a quase 10% de seu orçamento da Secretaria da Saúde de 2013 para tratamentos de dependentes. Assis diz que já conseguiu construir sete casas com ajuda de empresários.

"Eu sou mais um estrategista e vi uma oportunidade de o Estado potencializar o atendimento feito pela fazenda. Depois que Minas, assinou o convênio, representantes de cinco governos já procuraram o governo do Estado querendo conhecer melhor o que será feito aqui", disse ele ao Valor na semana passada em uma sala de reunião da empresa que mantém com a família - os sete irmãos, sobrinhos e primos. O Grupo São Francisco ocupa cinco salas em três andares de um edifício comercial de Belo Horizonte.

A empresa atua no ramo de construção. Faz shoppings e novas lojas do Bretas, dos novos donos chilenos. A família também tem uma receita que vem de alugueis de imóveis.

Assis diz trabalhar de 14 a 15 horas por dia. Ocupa-se com os negócios da empresa e também com um projeto que ele mantém em segredo com a família e que - por uma razão que tampouco revela - só falará publicamente em 2017. Se é uma volta aos supermercados? "Nunca mais", diz. "Deus já me deu a possibilidade de ganhar dinheiro", diz, acrescentando que quer "trabalhar o ser humano". "O que estou fazendo é, na minha cabeça, muito importante, mas só falo depois de 2017."

Entre um negócio e outro, há a Fazenda Esperança. "Eu ajudo o frei há 20 anos", lembra o empresário. Ainda quando o Bretas estava sob seu comando, adquiria produtos que os jovens em recuperação produziam para vendê-los nos supermercados. Entre os itens, água sanitária e velas. As compras regulares de uma rede como a da família Assis era importante para dar vazão ao trabalho - elemento-chave na recuperação dos jovens.

Uma vez por mês, ele está em Itabira, em um das fazendas. Em geral, aproveita para falar com os jovens. "Ele faz palestras no Brasil inteiro e faz muito sucesso entre os jovens, mostra um caminho e eles sempre o enchem de perguntas", diz frei Hans. "Quando ele decidiu doar sua vida aos outros, ganhou uma autoridade que vem justamente de sua dedicação a servir."

O empresário diz se impressionar com a guinada que muitos jovens dão em suas vidas. "O potencial que o cara tem para fazer bagunça é o mesmo potencial para fazer as coisas certas", diz ele. Falta de amor e compreensão em casa, pais que bebem na frente dos filhos estão entre elementos que para o empresário estão por trás de várias histórias dos jovens que chegam às fazendas. "Cada dez jovens que permanecem um ano, oito conseguem permanecer sóbrios depois", diz ele.

Além das palestras, o empresário anda agora ocupado gerenciando as obras das dez casas que serão erguidas com dinheiro público.

Assis vem de uma família de católica de Santa Maria de Itabira, município de 10 mil habitantes na região central de Minas. O pai, que fundou o mercado que viria a se transformar numa rede com lojas em 18 cidades, tinha por norma colocar a filharada para trabalhar cedo. Cabia à mãe engajar os meninos numa prática cara à igreja católica: o dízimo.

Lastênia, irmã do empresário e que está mergulhada até mais do que ele na atividade da Fazenda, diz: "A gente ganhava o equivalente a talvez a uns R$ 15 e minha mãe sempre dizia: 'já deu seu dízimo'? A gente até falava que o que a gente ganhava era pouco. 'Mas é do pouco que a gente acostuma a dar, se não quando tem muito não vai querer', dizia ela."

A lição ficou. Dez por cento do lucro do Bretas era convertido em dízimo para a fazenda e outras obras que a família apoiava, lembra Lastênia. Hoje 10% da receita do Grupo São Francisco vira dízimo, diz ela.

Frei Hans - que o classifica como alguém "totalmente diferente" da imagem que muitas vezes se tem dos empresários - diz que além de doar 10% dos ganhos da empresa da família, Assis, "pessoalmente doa 90% [do que ganha] para os outros".

Assis é engenheiro civil; casado e sem filhos. Houve um momento na sua juventude em que considerou abraçar a vida religiosa e fazer-se padre. Foi um caminho que acabou não seguindo. Ele usa um anel de tucum, símbolo de fiéis católicos que assumem um compromisso com os pobres.

Seu estilo meio franciscano de ser - que ele partilha com a mulher - tem a ver com isso. Quando fala do cubículo em que habita a maior parte do tempo, diz: "Quanto mais coisas você precisa para ser feliz, mais mal resolvido você está. Eu preciso de muito pouco. Tenho muito e preciso e preciso de muito pouco."

Um empresário e amigo, José Nogueira, 76 anos, diz que mesmo que às vezes alguém possa duvidar das motivações de Assis, quem o conhece vê nele uma personalidade muito particular. Ele lembra que antes de completar 50 anos, Assis tinha uma ideia fixa. "A obsessão dele era passar o comando do Bretas para outra pessoa quando completasse 50 anos para poder se dedicar às causas dele", conta Nogueira, afirmando que foi um dos que o demoveram da ideia.

"Ele é uma águia nos negócios, tem visão, resolve, empreende, tem capacidade de liderança e consegue compartilhar negócios com esses projetos dele", diz. Nogueira foi um dos empresários que ajudaram Assis a construir uma das dez casas novas da Fazenda Esperança - que serviram como impulso para o governo de Minas bancar outras dez." Eu fico até encabulado quando vejo como é que ele consegue fazer tanta coisa."

Assis para uns segundos e fecha os olhos quando é perguntado o que o motiva. Por que um empresário que liderou um arranjo bilionário usa parte de seu tempo e energia engajando-se em causas sociais? "Deus criou a gente para amar. No dia que a gente morrer, Deus vai te perguntar o que você fez com o amor que coloquei dentro de você?"
 
 
 
 

 

 

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