quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Bondade - História Real

(Retirei as fotos) As imagens são tristes demais...

Bondade não sabe por que apanha.
Seu pai a chuta, ela chora. Ele dá um tapa na sua cabeça que faz doer a sua mão.

A menina cai.

Ela é pequena demais para entender.

Ele grita com ela: Você é bruxa! Diz que é!

Ela não sabe o que significa essa palavra. Ela tem oito aninhos e crianças de oito anos não sabem bem o que significa ser bruxa, mas sabe que deve ser algo muito ruim para apanhar tanto de quem ama.

Ele a coloca em pé. Aperta sua face com suas unhas. Morde seu braço. Ela urra de dor. Ele a soca na boca, os poucos dentes amolecem e sangram. Ela cai. Ele chuta. Bate nas suas pernas com a vara. Pisa com a bota em seus pés descalços.

A menina parece desmaiar. Ele a acorda com tapas.

Depois de horas de tortura, os vizinhos amedrontados veem ele a arrastando para fora de casa.

Ela é arrastada entre socos e pontapés pela rua.

Quando ela desmaiou, o pai a abandonou dando um golpe com o cabo de seu rifle AK 47.

Ninguém podia se aproximar da menina, pois ele ameaçava atirar em que se aproximasse dela.

Bondade foi socorrida.

E estará sob a tutela do Way To The Nations, aqui na Nigéria.


Essa história é real.

Bondade existe. Ela chama Goodness.

Aconteceu aqui, essa semana. A menina recebeu alta do hospital hoje.

Ninguém do nosso time apareceu aqui no orfanato hoje. Eu sabia que tinham se esforçado em socorrer e salvar esta pequenina. Mfon, a nossa assistente social chegou no fim da tarde para trazer os alimentos. Mas vi em seus olhos que ela estava cansada e abatida demais para conversar disso.

Cuidamos de 57 crianças num orfanato que era um campo de concentração. O antigo administrador deste lugar não se interessava por elas, mas pelo dinheiro que conseguia com elas.

Assumimos a responsabilidade pela alimentação e saúde de cada uma. 

Muitas aqui foram salvas desta loucura da bruxificação, causada por pastores evangélicos pentecostais ligados à Teologia da Prosperidade.

As crianças trazem marcas profundas nos corpinhos e na alma.

Vítimas da loucura. Do abandono. Do medo. Da depressão. Da miséria. Do caos.

É revoltante.

Eu estava aflito por causa da história da pequena Goodness que li ontem.

Tratei de descontar minha aflição em muito trabalho e num tempo com os pequenos.

Instalamos lâmpadas recarregáveis em todos os quartos, já que aqui a energia elétrica é coisa rara. É mais fácil carregar as lâmpadas quando a energia chega do que acender as lâmpadas só quanto tiver energia.

E brinquei com os "bruxinhos". Todos pequenos e lindos. Todos sorrindo. 

Apostei a conhecida "sardelinha" com todos e quem perdesse tomava uma surra de cosquinhas!

Foi puro amor.

Estes pequenos que foram torturados por causa da loucura da estigmatização, são só amor.

Olhinhos brilhando, na fila para ver quem perdia de mim na sardelinha e levava cosquinhas.

Brinquei com elas, tratei de morrer de canseira por brincar com elas.

Fiquei exausto de tanta cosquinha e com os dedos doendo de tanta sardelinha.

Em todo tempo eu pensava que por pouco elas não brincariam nunca. Não teriam esses sorrisos. Não abraçariam minhas pernas... seriam mortas por causa da loucura dos adultos.

Elas são só bondade.

Assim é só Bondade a pequena Goodness.

=====


Deus do Céu. Cuide da pequena Goodness. O Senhor que é Bondade, cura o coraçãozinho dela com muito amor.

E dá-nos força para enfrentar essa loucura.

Com muita Raiva e Coragem, as filhas da Esperança.

Raiva do estado das coisas. Dessa calamidade, dessa loucura!

E Coragem para salvá-las. Para pôr a cara à tapa. Para dizer: Basta!

E dê nos muito amor para cuidar dos que temos salvado.

E ensiná-los a serem bondosos.

E que são especiais.

E lembrá-los sempre que Deus do céu diz que o Céu é deles! 

Dá-nos Bondade!

Pois nós humanos, somos maus.

Somos Pedra, como coincidentemente é o nome do pai da Goodness.

Seu nome reflete o que o seu coração se tornou.

E o que o nosso pode se tornar se o enchermos de qualquer coisa que não seja amor.



Gito

Esit-Eket
Akwa Ibom, Nigéria




Para ler a reportagem sobre o ocorrido com Goodnees, clique AQUI

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