terça-feira, 15 de outubro de 2013

Do outro lado do mar

 Diario do nosso amigo Gito. Direto da Nigéria.





Vai fazer um mês que estou na estrada.

A primeira parada foi na Inglaterra, para encontrar o Léo que é quem coordena as ações na Nigéria e lá, juntos, organizamos tudo. A burocracia do Way To The Nations fora do Brasil, a prestação de contas e as doações para trazer.

Chegamos à Nigéria dia 1. Em meio ao caos. Já que o governo privatizou a energia, que era ruim e por causa disso, tirou o pé do acelerador. As empresas que assumiram, ainda não assumiram de verdade. O país estava no escuro.

Por causa da escuridão, os postos de gasolina esvaziaram de petróleo, já que a população precisava deles no carro e também nos geradores, para iluminar o breu.

O gerador do orfanato, é pequeno e velho. Quebrou bem nesses dias.

Sem energia, não há água para banho e sem banho nesse calor, o corpo vira uma picanha no alho aos olhos dos mosquitos, com os mosquitos, noite mal dormidas e noite mal dormidas são a falta de energia do corpo.

Mas chegamos aqui reformando tudo.

O gerador. O banheiro. A cozinha. Os quartos. O quarto de voluntários. A fossa. A rotina.

Ainda arranjamos forças para ir e vir, o dia todo, comprando peças para nossas reformas, equipamento para nossos quartos e comendo o que tivesse na reta - coisa que aqui é complicado.

Fomos a Oron. A cidade onde estão 85% dos casos de estigmatização infantil aqui na Nigéria. Falamos num vilarejo, distribuímos panfletos contra a bruxificação, confrontamos os ensinos dos pastores e profetas do terror, conversamos com famílias que expulsaram os filhos.

No orfanato, descobrimos que precisamos de psicólogos, terapeutas, de médicos, de dentistas, de assistentes sociais, de coordenação na cozinha, de pedreiros, eletricistas, encanadores, professores, sociólogos, motoristas, todos estes visionários e voluntários, já que o que temos supre pouco. Enquanto estes não chegam, vamos desempenhando estes papéis e terceirizando o que é possível.

E no dia das crianças, levamos as crianças do país com o povo que teme o mar para conhecer o mar.

Aqui eles não costumam entrar na água por temerem os "grandes seres do mar", pois enfiamos a molecada na água, que divertiram demais! 

Eu sei que é um saco ler esses e-mails, mas estou terminando!

Os desafios agora são maiores!

O Léo se foi e estou como único estrangeiro aqui no orfanato.

Entender o que eles falam, num inglês misturado com a língua local além de sotaque é um trabalho!

O cartão American Express não funciona aqui. O dinheiro que vem via Western Union no meu nome têm tido complicação para ser sacado já que os funcionários do banco insistem em dizer que eu preciso ter conta no banco. (Ora, se eu tivesse conta no banco, não precisaria de Western Union, mas... This is Nigeria!)

O quarto dos voluntários tem luz elétrica e ventilador, mas nenhuma tomada funciona. Precisamos sair no escuro, procurando tomadas, para carregar o computador, o celular, a lanterna, a geladeira...

Algumas crianças estão mal. Uma deles com tifo. (Não se preocupem, eu tomei vacina da febre tifóide). Uma funcionária com malária (Não se preocupem, estou me besuntando de repelente). Um outro menino com hérnia (tá feio!). Um com o ouvido infeccionado com risco de perder a audição se não tratado corretamente e a tempo (o que aqui se entenderia como um risco iminente) e o Bobó, tadinho, que sua tripinha ficou muito tempo solta dentro dele, e por isso, agora, está voltando a sair e isso só se resolve com cirurgia (Nesse país é mais fácil você ver uma vaca voando que uma cirurgia ser bem sucedida).

Fora nossos meninos e meninas precisando de atendimento psicológico, já que vieram de traumas terríveis e não tem eles mais que 10 anos.

Aqui sobreviver é um desafio, quanto mais viver para fazer viver o outro. Tem sido um desafio e tanto!

Mas tenho encarado com muita alegria o privilégio de cuidar dos pequeninos a quem pertencem o Reino de Deus.

Fiz uma lista de coisas que precisam ser feitas. Reformas à mil. Cuidados à mil. Eles terão aulas de violão às terças e quintas, futebol às quartas com um professor especializado, canto e percussão às sextas, uma espécie de conversa que eu inventei às segundas - minha versão freudiana das coisas - e estamos contratando um professor de música fera e queremos fazer do Mr. Akpabio, nosso eletricista aqui, professor deles. 

Tô pregando lista de atividades por todo canto. 

Essa criançada precisa crescer com uma nova mentalidade. 

O que eu preciso?

Eu preciso de orações.

Eu preciso de conversar em português, por isso ligue, mande e-mail, escreva, etc.

Eu preciso de grana para poder fazer a internet funcionar, comprar um rango com cara de comida brasileira, passar os finais de semana fora do orfanato para não me sobrecarregar.

Preciso de entender o que os caras dizem, por isso estou lendo um livro e uma bíblia e inglês e aprendendo 4 palavras novas em Ibibio por dia. Mas me encho logo disso tudo, por isso, preciso de incentivo e orações para Deus fazer um milagre na minha paciência.

É isso aí!

Maiores informações: sara.oliveira.sa@hotmail.com Ela é a moça da grana! Doem à ela e ela fará chegar a mim. E também terá notícias fresquinhas de uma semana atrás.

Um beijão;

Uncle Gito




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